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Professor(a) 365 dias do ano

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Faz tempo que decidi não escrever mais sobre datas comemorativas tipo dia do professor, dia dos pais, dia do meio ambiente, dia do índio, dia da mulher, etc. O que não faltam são datas comemorativas para serem celebradas. Via de regra, são homenageadas pessoas ou entidades que durante os 365 dias do ano são esquecidas, pouco valorizadas, quando não são vítimas do modo de viver que escolhemos adotar. Perdoem aqueles (as) que escrevem sobre datas comemorativas, mas, para mim, me soa um pouco forçado, assim tipo um pedido acanhado de desculpas.

Em outubro, tivemos duas datas comemorativas que foram muito celebradas. O dia da Criança e o Dia do(a) Professor(a). Para não fugir do "normal" - eita palavrinha que anda chateando -, choveram programas, textos e manifestações políticas referentes a essas datas. Augusto Boal (1931-2009) além de teatrólogo, ator e escritor foi um excelente professor. Todos os que tiveram a oportunidade de com ele fazer algum curso são unânimes em reafirmar mais essa sua qualidade. Boal foi exilado durante a ditadura militar brasileira pós-64 - que alguns insistem em dizer que não aconteceu. No período de exílio, ministrou cursos de teatro por vários países mundo afora.

No livro O Teatro como arte marcial (Ed. Garamond, 2006), Boal conta uma impressionante e comovente história. Ele estava ministrando um curso de teatro em Genebra na Suíça que durava quatro horas por semana, durante 10 semanas. No último dia, como sempre fazia, Boal pediu que os participantes fizessem uma avaliação de como tinha sido o curso e como tinham se sentido fazendo o mesmo. Uma jovem participante, que era tetraplégica em função de um grave acidente de carro sofrido quando criança, se apresentou e disse: "Professor, eu viajo três horas de trem para vir ao curso e mais três para voltar todas as semanas".

Antes que ela continuasse Boal admirado perguntou: "Mas não é muito tempo viajando para assistir apenas quatro horas de aula?". Ao que a aluna respondeu sem titubear: "Professor, essas são as quatro horas mais felizes da minha semana... farei todos os cursos que o senhor ministrar, não importa quanto tempo tenha que viajar". Augusto Boal era uma pessoa que não escondia as suas emoções. Chorou. Ficou sem palavras para dizer qualquer coisa para aquela jovem. Apenas pensou que ela tinha lhe dado uma das maiores lições de toda a sua vida como professor, como teatrólogo, em fim, como gente. A referida aluna, como tinha perdido todos os movimentos abaixo do pescoço, em função do acidente, era conduzida durante as aulas pelos colegas que a ajudavam a acompanhar todas as coreografias que eram desenvolvidas. Boal conta que ela era uma das alunas mais dedicadas e, pasmem, a que demonstrava mais alegria e nunca reclamava de não conseguir executar alguma atividade.

Ofereço esta crônica a todos(as) os(as) professores(as) que são professores(as) porque querem ser professore(as) e não porque não conseguiram ser outra coisa; que amam ser professores(as) porque não saberiam exercer outra profissão; que são professores(as) num país em que em qualquer concurso público um dos menores salários é sempre o de professor; um país em que os(as) professores(as) são muito lembrados em algumas datas ou épocas.

O grande professor Paulo Freire (1921-1997) certa vez, ao ser perguntado o que queria dos dirigentes do país como educador, respondeu mansamente: "Queremos pouco, apenas que nos respeitem". Eita cabra da mulesta esse professor Paulo Freire, atualmente tão perseguido por certas mentes retrógradas e, ao mesmo tempo, tão "homenageado" por freireanos de ocasião. Por coincidência os livros Teatro do Oprimido de Augusto Boal e Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire foram, ambos, publicados no exílio na década de 70. Coisa estranha, aqui não teve ditadura militar.

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